quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Prima Noite

Então entrei no quarto como se quisesse colo
e ele me sorria com um sorriso de algum anjo
então deitei na cama como se fosse meu noivo
beijou a minha mão como se fosse a dele
então a primeira concessão foi aceita
ele não parava de sorrir ao deslizar em meu corpo
aquelas mãos fortes de homem que já espreita
as gritantes sensações desencadeadas sem consolo
ah que perfume doce, a que pequena fina
porque se faz maldita se eu só te quero posse
essas canelas magras, fracas, e nos olhos
lágrimas.
Agora que o perfume dele passou eu só sinto álcool
e como será o próximo? Porque não sai de cima de mim?
Porque minhas pernas não movem? Acaba, fim, acaba, fim
ela não sabe o que é ser violado, ele é o diabo, ele é o diabo
então gritei no quarto como se quisesse fugir
e eu quis matá-lo mas não podia
e enquanto a me cobrir sorria

eu não gozo liberdade porque meu gozo é vermelho
meu grito é atado mesmo estando acabado
eu enxergo os brinquedos cênicos
agora entendo os papeis higiênicos
Então o esperei desejando que fosse logo
quando acabou de se limpar
me buscou sem as asas
abriu a porta abotoando as calças
deu-me um beijo na cabeça
me pediu confiança
pedindo que eu não estremeça
como se guardo na lembrança
só o teto daquele quarto
o preto no fechado
e uma cicatriz
cá no braço?
Então agora vago, o vaso de casa eu não pinto
os bordados pra mamãe já não faço
não some essa marca do braço
não sei mais aonde fico
se fico eu apenas surto
lembrando toda hora dos gritos berrados
gritos, pra mim, pra ele sussurros
ele? Do outro lado, colecionando seus mudos
mudos...
mudo...
mud...
mu...
m...
...
..
.




João Alves

2 comentários:

Contra a morte disse...

Textos novos sempre bem vindos e sempre muito bons !

lagarta.listrada disse...

Seja MUITO bem-vindo!!!
Seu texto está muito bom! E incomparavelmente bem escrito!
Obrigada pela colaboração! ^^
[por Jamille Veiga, dona II do Contra a Morte]